Famoso símbolo da RKO Radio Picture, que produziu vários clássicos. |
O poder de Cidadão Kane não está apenas no que ele mostrou, como na estética inovadora, mas sim, na repercussão que ele fez sobre o ouvido das pessoas. Muitos hoje podem não entender, mas era claro e evidente para quem o vira na época. Orson Welles já sabia de tudo, ele então decidiu refletir um pouco e iniciar um projeto que mostrasse muitas das mentiras contadas pela mídia. Enfim, apenas por isso, já pode ser considerado um filme corajoso, mas certamente, com certeza o cinema já vinha em uma onda para esse caminho. Welles então, decidiu apressar logo, e acabou indo além do que ele mesmo imaginava.
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Welles e sua mensagem. |
Tristemente, até hoje muitas vezes vemos vários sistemas de imprensas manipulando tendenciosamente certas notícias e argumentos, às vezes até como forma de repressão. Um país que vive momentos como esse é a China, ou República Popular da China. O Partido Comunista Chinês (PCC) tem tido pouco sucesso em controlar a entrada e saída de informações, pois todo sistema forte de controle de mídia sempre enfrenta dificuldade em todos os aspectos, desde a economia até a educação no país. Mesmo assim, a China possui uma cidadania que está cada vez mais educada, e mudanças culturais estão a tornando mais aberta. Agora, é possível mesmo parar com essa manipulação da mídia? O sistema chinês não é o único, mas é o mais forte, e por ser manipulado pelo Partido Comunista Chinês, o torna mais que utópico, não tendo nada de comunista nele, mas sim, capitalista como muitos e ditatorial pela repressão. Certamente, se Cidadão Kane tivesse sido produzido em países repressores como esses, na época, não teria chegado aos ouvidos de ninguém, e Welles aproveitou o momento, já que não estava nessa situação.
Cidadão Kane é evidentemente baseado na vida do famoso jornalista William Randolph Hearst, e conta a história de Charles Foster Kane, um menino pobre que acaba se tornando um dos homens mais ricos do mundo. A premissa é bem simples, a finalidade é bem subjetivista por parte de Welles, mas uma coisa é certa, atracou e muito os que conheciam o jornalista Hearst, que acusavam ser baseado em sua vida. Ele, uma vez, teria dito que Hearst nasceu rico com uma mãe cuidadosa, o que é totalmente ao contrário no caso de Kane. Caso Welles confirmasse, seria o caos, ele então, acabou discordando, mas até hoje, a dúvida permanece em relação ao real propósito de Welles.
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Iluminação fortíssima, característica de Welles fruto do expressionismo. |
Inovação cinematográfica injustiçada no Oscar:
A peça sagaz fora indicada à 9 estatuetas na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, merecia levar todas, ou praticamente as que mais lhe cabiam sobre forma de uma obra inovadora. A trilha e o som eram de Bernard Herrman, o grande compositor de Alfred Hitchcock, que iniciou a carreira com o filme de Welles. Robert Wise ficou com a montagem, que certamente o influenciou em vários filmes seus. Esses também foram indicados por Melhor Edição de Som, Melhor Trilha Sonora e Melhor Montagem, mas apenas a de Melhor Roteiro Original fora a premiada.
O roteiro assinado por Herman J. Mankiewicz e pelo próprio Orson Welles fora uma das principais inovações por conta de ser uma história complexa que visualmente é simples. Era uma ‘biografia fictícia’, certamente uma metáfora, mas que realmente surpreendeu muitos pela forma como foi narrada. O filme em si conta uma história que relembra outra com uma finalidade simples, saber o significado de uma palavra citada pelo personagem Charles Foster Kane, “Rosebud”. Isso meio que soa de forma satírica, mas realmente era esse o plano do diretor. Em busca de saber o significado da palavra, uma imprensa busca por relatos sobre a vida de Kane apenas com o objetivo de saber seu significado para que seja publicado no jornal, e chame a atenção dos leitores. Nessa busca, Herman e Welles roteirizaram uma narrativa de uma forma cronológica diferente jamais vista na história do cinema, que hoje já é comum, mas não tão bem feita quanto essa.
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Charles Foster Kane (Orson Welles) discursando como candidato à governador. |
Welles trouxe para o público um conhecimento diferente acerca da edição de som e montagem de cenas, saindo de um fluxo constante do cinema, e tornando isso um processo mais criativo. Essa diferença de Cidadão Kane pode ser vista em vários pontos do filme, como na lentidão das fusões fade-in e fade-out; ocasionando uma mistura de elementos de duas imagens. A repetição de cenas a partir de pontos de vista diferentes. O brusco aumento do som em momentos de grande significação. A forte fotografia posicionada em canteiros expostos do cenário; dando mais atenção ao personagem que a lhe necessita.
Mesmo com toda essa influência nos filmes seguintes, muitos diretores ofuscavam as características de Welles em seus filmes. É possível ver o clássico naturalismo cinematográfico em movimentos europeus como Nouvelle Vague e o Neo-Realismo; movimentos que não se misturavam ao estilo Cidadão Kane, que mesmo possuindo um estilo próprio, engajavam a mesma base de montagem dos filmes anteriores a Cidadão Kane, mas isso não significa que sejam ruins, pois são claramente diferentes, assim como inovadores, marcando história no cinema.
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A ambição de Kane pela arte tornou-se outra coisa. |
Apesar de ser um clássico, "cidadão Kane" não é um filme bem visto pela imprensa de uma maneira geral, e os motivos são óbvios...
ResponderExcluirHoje, infelizmente, grande parte dos cineastas e do público consumidor de cinema deixam de lado a vanguarda, a coragem e o ativismo em nome simplesmente dos efeitos especiais. E esse público passivo certamente dormiria nos primeiros minutos de um filme tão bom e estimulante, que nos proporciona boas reflexões.
Abraços, Flávio.
--> Blog Telinha Critica <--
Flávio,
ExcluirInfelizmente, e são todos os tipos, a ditatorial, capitalista e democrática, ainda colocam contrapontos sobre o filme, que é claramente real e bem feito.
Abraço, Otávio.