segunda-feira, fevereiro 20

o ódio, de mathieu kassovitz - a vida no subúrbio da paris de 90


O Ódio (La haine, França, 1995) é um famoso filme francês da década de 1990, dirigido por Mathieu Kassovitz. É um drama que relata a vida de jovens no subúrbio da grande cidade luz. O tema de fundo do filme é a violenta repressão do governo sob os moradores dessa área. O filme foi feito em memória de todos que faleceram antes dele por causa dessa brutalidade. A ideia do diretor estreante Kassovitz, com apenas 29 anos, acabou repercutindo no mundo inteiro, e serviu como um filme denúncia que relatava a situação governamental na cidade. Então, ele acabou ficando conhecido no mundo inteiro e influenciando até grandes "filmes revoltas", como o próprio brasileiro O Que é Isso, Companheiro ? (Brasil, 1997), de Bruno Barreto, que apesar de apresentar uma temática e narrativa diferente, além uma história mais efetiva, apresentam a mesma tese do filme de Kassovitz.

Sendo exibidos em mais de 20 países do mundo inteiro, incluindo toda a europa, parte da américa e até o oriente médio, O Ódio deixou uma marca na cabeça das pessoas, fazendo muitos refletirem sobre o tema tratado. Ele não estreou nos cinemas brasileiros, mas o filme rodou por aqui no formato VHS. Muitos professores de Geografia e História passam o filme para seus alunos, com o intuito de informá-los a forma com que uma população repreendida se urbaniza, mesmo de forma desigual. Hoje, ele já foi até convertido à qualidade blu-ray pela The Criterion Collection.

Mathieu Kassovitz na direção de seu segundo filme O Ódio.

O elenco é estreante no cinema, formado por, Vincent Cassel, Hubert Koundé e Saïd Taghmaoui. Vincent Cassel, hoje famoso, faz o papel de um judeu; Hubert Koundé faz o papel de Hubert, um imigrante africano que gosta de boxe; Saïd Taghmaoui é Saïd, um imigrante árabe. O Ódio é um tipo de cinema inovador, que muitos chamam de cinema-verde, por ser um filme de finalidade documental, que tem uma história fictícia de personagens com o mesmo nome dos próprios atores. Ou seja, o diretor Kassovitz tentou aproximar o máximo esses três rapazes que atuam como se fossem eles mesmos. Kassovitz fez o roteiro inspirado em um jovem amigo seu - morto em uma custódia pela polícia -, por isso o título do filme. Como ele mantinha bastante contato com Cassel, Saïd e Hubert, acabou criando personagens que combinassem com o estilo deles mesmos, para que o filme parecesse mais real.

O filme narra 24 horas da vida desses três jovens no meio do perigo entre a periferia e a polícia. Vinz, o judeu, é o mais apressado e menos inteligente dos três, pois pensa pouco antes de decidir algo. O árabe Saïd é o mais calmo, mas também o mais desesperado com o que o futuro possa trazer. Hubert, o negro, é o mais maduro, que contém a sua raiva através do boxe. Os três passaram a noite toda em conflito com a polícia, depois que Abdel Ichah, um árabe de 16 anos e amigo deles, fica em coma após ser espancado durante um interrogatório. É mais um caso de abuso de poder, mais um motivo para o ódio.

Vinz, Saïd e Hubert.

A história é tão bem contada e real, que ficamos pensando: "isso pode acontecer com qualquer um e à qualquer hora". Ela, provavelmente tem o intuito de mostrar que os jovens de hoje usam droga por conta da polícia. Bom, é um argumento um pouco absurdo e sem fundamentos, mas pode-se dizer que tem um propósito, mesmo que seja ou não anarquista: acabar com a desigualdade social. Poucas vezes paramos para pensar qual a principal fonte-causa da desigualdade social. Entre muitas delas, está a polícia, que deveria ser usada de outra forma ao invés de contra o povo e contra os ladrões, por assim dizerem. Quandos analisamos, vemos que o único que está se beneficiando é o governo, e é assim em muitos países que a polícia é usada: para mostrar que todo país republicano, democrático ou ditatorial não possuem tantas diferenças, pois todos partem de um mesmo princípio, em direção à corrupção. E essa é uma das principais causas que dividem às comunidades, levando ao mal distribuimento de renda entre as populações, tornando mais que utópico o comunismo e até a democracia. O que deixa muitos revoltados, como os personagens do filme.


O mais interessante, que deixa o filme mais real, é a influencia dos Estados Unidos, o capitalismo, no mundo inteiro. Por exemplo, quando Vinz encontra uma arma ao chão, de um policial, ele se faz de malandrão, imitando o personagem Travis Bickle, de Taxi Driver (EUA, 1976), de Martin Scorsese. Isso para o diretor Kassovitz pode ter sido usado como uma sátira, mas creio que não, na vida de Travis, muita coisa espantava de tão chocante, pode sim, ter sido uma referencia à um filme que influenciou esse.

Confira uma técnica usada pelo diretor para junção de duas cenas de Vinz se olhando de um lado e do outro do espelho para ocultar a câmera:


A situação na época, na cidade de Paris, era pior do que qualquer uma, como a própria favela no Brasil ou os conflitos no Oriente Médio, pois lá, na periferia, estavam muitos imigrantes que viviam sozinhos, esperando para ser torturado. E o diretor conseguiu mostrar isso, tendo por ápice a descuidada cena final.

Algumas cenas do filme chegam a ser superficiais por conta da droga na mente dos personagens, como no momento que Vinz vê uma vaca andando numa estrada, ou quando Hubert conversa com uma garota morena que diz lembrar dele, mas na realidade não aconteceu, seria uma referência ao primeiro filme de Kassovitz, Métisse (França, 1993). Outra referência seria ao personagem Asteríx, que também é superficial, servindo apenas como metáfora para a vida desses três personagens.

"I know who I am and where I came from."

O Ódio também tem por fundamento, mostrar de onde vem a palavra. Por exemplo, quando um amigo deles, o já citado Abdel Ichaha, foi brutalizado pela polícia pouco antes do motim e está em coma, Vinz prometia, mentalmente, que mataria o policial com a Magnum .44 que encontrou, caso seu amigo não sobrevivesse. E quando ele ouve sobre a morte de Abdel, fantasia a vingança em sua mente. Isso é um tanto inteligente e inovador, principalmente para o próprio filme que fala sobre o ódio. Quem nunca fantasiou o gosto do ódio ou da vingança não é ser humano, pois nesse mundo, nascemos para ser de tudo um pouco.

Inspirado no filme francês, foi criado um site espanhol que tem por intuito ajudar na luta dos jovens pelos direitos humanos, contra qualquer tipo de sistema repressor. O site é atualizado constantemente, e engloba tudo que está havendo nos países do mundo inteiro. Realmente, o filme fez efeito em muitos, e é até considerado como um dos mais importantes de todos os tempos, claramente merecido.

2 comentários:

  1. Olá, Otávio, grato pelas visitas. Acabo de linkar o seu blog, também já sou seguidor... Lembro-me de ÓDIO, vi faz tempo, ainda no cinema, e fiquei muito impressionado. Preciso revê-lo.

    O Falcão Maltês

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    1. Antonio,

      O filme realmente é bastante impressionante. Obrigado por estar passando por aqui. Já linkei o seu blog também.

      Abraço, Otávio!

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