domingo, fevereiro 19

a invenção de hugo cabret, de martin scorsese - mèliés e o nascimento da sétima arte

Era dia 17 de Fevereiro, numa sala de cinema em 3D. Na sala, todos estavam pensativos, tentando saber se o filme realmente seria bom, dividiria opiniões, ou pelo menos, se alguns pessimistas não gostariam. No entanto, ninguém imaginava que seria uma das melhores experiências cinematográficas que já tiveram.

Isabelle (Chloe Moretz), que nunca assistiu um filme, ao lado de Hugo (Asa Butterfield).

A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, EUA, 2011) é dirigido por Martin Scorsese, pela primeira vez, depois de 12 anos, sem DiCaprio no elenco. Ele mostrou o que todos já sabiam, que o ator não influenciava tanto em seus filmes, e fez, com certeza, uma das obras mais importantes da história do cinema. O diretor resgatou o estilo usado pelas animações clássicas, e fez um filme em 3D quase que animado de uma estética fortíssima.

O filme é uma adaptação da obra literária The Invention of Hugo Cabret, de Brian Selznick, que conta a história do jovem Hugo Cabret em busca de uma resposta sobre o falecimento de seu pai, que acabou o embarcando em uma aventura que reconstruiria a vida do criador do mundo do cinema.

O Inspetor da Estação (Sacha Baron Cohen) e seu cachorro.

A Invenção de Hugo Cabret pode não ser tão bom para alguns, mas para quem ama a sétima arte como eu - que passava o tempo lendo sobre o nascimento dessa, principalmente sobre o pai, Mèliés -, pode-se dizer que foi até nostálgico, viver em um tempo que você sonhava conhecer como realmente era. Foi isso que Scorsese fez com o espectador que ama tal arte sentir, foi um sentimento único, jamais transmitido na história do cinema. O diretor teve a oportunidade de contar a história jamais revelada. Ele deu valor ao que ninguém tinha dado tanto cinematograficamente.

É claro que, incomparavelmente, essa última obra de Scorsese, filmada no formato 3D, pode ser dita como a melhor obra já feita nesse formato. Com certeza, James Cameron tinha, incontestavelmente, dado uma grande experiência ao público com seu ótimo filme Avatar (Avatar, EUA, 2009), um filme odiado e aclamado por muitos, mas no caso de A Invenção de Hugo Cabret, Scorsese fez a obra em 3D que dificilmente será superada. Foi uma experiência única; uma obra de outro patamar, que não se pode, sequer, ser comparada a nenhuma outra, pois foi com esse filme, que se descobriu o fruto de tudo; o fruto de nossos sonhos.

Hugo no grande relógio da cidade, onde dá corda neles para atualizar os cidadãos.

O filme é de uma mágica incontestável. Martin Scorsese mostra ser um dos maiores diretores do cinema dirigindo uma história infantil magnífica que possui uma narrativa extremamente bem feita. A transformação que o personagem de Brian Selznick, Hugo, submeteu ao público da época é tão poderosa quanto a que Scorsese deu ao seu público, hoje. E a relação de consolo que Hugo criou entre ele e Mèliés só poderia ser bem narrada por Scorsese. A direção de Scorsese merece apenas aplausos, já que ele é, sem dúvidas, um dos poucos diretores americanos que mostram sua imaginação através de imagens, sem aquelas direções grosseiras e desequilibradas que muito vemos hoje. A sua direção é tão bem feita, que ele consegue fazer com seu elenco o que animadores fazem nos desenhos.

Martin Scorsese dirigindo Ben Kingsley, que interpreta George Mèliés.

Assim como David Fincher, Martin Scorsese trabalhou com a mesma equipe que sempre trabalhara desde filmes como Os Bons Companheiros (Goodfellas, EUA, 1990). Thelma Schoonmaker foi a responsável pela edição do filme que ficou simplesmente fantástica como em muitos filmes de Scorsese. Mas essa, certamente, foi uma de suas melhores, pois com o cenário enorme de Francesca Lo Schiavo, a grande fotografia de Robert Richardson, uma ótima equipe de Direção de Arte, e a trilha de Howard Shore, compositor da fantástica trilogia do Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, o que não faltou foram imagens e cenas ricas para recolocação. Esse foi o 3D mais importante do cinema, e me orgulho em saber que essa mágica inteiramente reformulada, custou 170 milhões de dólares.

Ben Kingsley como George Mèliés (1864-1938), e o próprio à direita.

Ben Kingsley pode não ter chamado tanta atenção com sua atuação, mas é fato que ele realmente estava inspirado interpretando o famoso diretor. Ele interpretou muito bem seu personagem George Mèliés, e muitos, como Manoel de Oliveira - diretor português que viveu na época e pôde ver o filme -, podem lembrar desse ícone que marcou a história dando início ao cinema. Kingsley teve de interpretar o personagem de uma forma meio que bipolar, pois a mudança do real George Mèliés demorou bastante. Mas no caso do filme, teve de ser feita de forma rápida, e como sempre, o ator deu o seu melhor. Como parte da dramatização de que todas as pessoas, apesar de algumas parecerem maldosas, têm no fundo um bom coração. E quem nos mostrou que isso era verdade foi ele, Mèliés, inventando a sétima arte.

George Mèliés, o pai do cinema:
Em 1895, no Le Grand Caffé, em Paris, França, os irmãos August e Louis Lumière faziam a primeira exibição cinematográfica em público, com a sua invenção: o cinematógrafo. As primeiras exibições do cinematógrafo foram de câmera parada, ou seja, ela era apoiada em uma mesa e apenas focava a cena a partir de um ponto, sem ser movida de forma gradual. No Café, fora exibido várias filmagens feitas com o cinematógrafo, uma delas, em especial, mecheu com a cabeça de muitas pessoas: fora a vinda de um trêm em direção à tela, que fez com que todos se assustassem por não conhecer o poder dessas imagems. Aliás, ninguém imaginava que essa exibição seria a fonte de nossos sonhos, onde podíamos vivê-los por um momento longe da sociedade hipócrita.

No Café, estava o mágico George Mèliés, um homem feliz da vida que adorava o que fazia. Mèliés, no final da exibição, perguntou aos irmãos, criadores da misteriosa máquina, se eles podiam lhe emprestar um para usar como instrumento de entretenimento para o público. Os irmãos Lumière responderam que o cinematógrafo era um projeto mais voltado ao cientificismo, que tinha por objetivo gravar formas histórico-documentais. Mas eles estavam errados. Mèliés mostrou o porquê começando a filmar histórinhas curtas, com sua inteligência, baseadas em contos clássicos. Com isso, ele foi fazendo sucesso. Filmou mais de 500 películas, e em 1913, já com aproximadamente 553 títulos, decidiu parar de fazer a arte, que já estava por ser dominada pelo capitalismo.

Quando as peças de Mèliés do Museu foram doadas à um bom lar que cuidasse delas, o pai do jovem garoto Hugo Cabret teria conseguido algumas invenções do mestre, que, nessa época, trabalhava em uma loja de conserto. O pai do garoto teria conseguido um Autômato, uma espécie maquineísta de rôbo criada por Mèliés. O pai da sétima arte usava ele para gravar suas imaginações artísticas.

Isabelle, filha de George Mèliés, que ajuda Hugo em sua busca.

Depois da morte de seu pai, por volta de 1930, a única coisa que sobrou para Hugo fora o autômato. Hugo, então irá em busca do que acha ser uma mensagem de seu pai, a partir dessa máquina, jamais consertada depois de quebrada. E em uma aventura nostálgica para quem ama e entrega parte da vida a arte, o diretor Scorsese narra, ao estilo de fábulas e contos, a aventura vivida por esse jovem garoto. Uma aventura que mostra o importante valor do cinema no mundo em que vivemos. Certamente, muitos podem, ou melhor, podiam não saber, antes de ver esse filme. Mas é certo que a sociedade necessita da sétima arte, e a mesma precisa da sociedade para entrar em harmonia.

2 comentários:

  1. Um daqueles filmes que presta um serviço ao cinema, fazendo com que os fãs da sétima Arte como nós se emocionem, e também com aqueles que desconhecem este tempo áureo fique curioso e tenha um conhecimento mais vasto. Eu mesmo não conhecia sobre Meliés e fiquei maravilhado.

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  2. Qual e o nome do filme q hugo e izabelle assisti?

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