quarta-feira, fevereiro 22

luis buñuel, meio século de cinema


O diretor espanhol Luis Buñuel nasceu no dia 22 de fevereiro de 1900. Hoje, 22 de fevereiro de 2012, estaria completando seus 112 anos, mas infelizmente nos deixou no dia 29 de julho de 1983, aos 83 anos, quando já faria 7 anos sem dirigir filmes, sendo seu útilmo, Esse Obscuro Objeto do Desejo (Cet obscur objet du désir, França/Espanha).

Buñuel parou depois de ter filmado Esse Obscuro Objeto do Desejo, em 1977. Estava ficando surdo, e a saúde chegava apenas a piorar. Desde tempos fora sempre um grande alcoólatra e fumante, e mesmo apesar de resistir bastante, acabou sofrendo de diabetes e de cancro no fígado.

Em novembro de 1982, Salvador Dalí, grande admirante de Buñuel, escreveu aspirando sobre um tal demônio filosófico que estaria a querer fazer um filme sobre. Dalí escrevera:

"Querido Buñuel: de dez em dez anos envio-te uma carta com a qual não estás de acordo, mas eu insisto. Esta noite concebi um filme que podemos fazer em dez dias, não a propósito do demónio filosófico, mas do nosso diabolinho. Se te apetecer, vem ver-me ao castelo de Púbol.
Um abraço!
Dalí"

"O Cão Andaluz", de 1928

O primeiro filme de Luis Buñuel foi O Cão Andaluz (Un chien andalou, França, 1928), um filme completamente surrealista, que já apresentava as primeiras teses sobre o mundo do diretor, sem contar nas suas técnicas, que influenciaram seus próximos filmes. Como todo digno diretor de arte que desde o começo tem filmes de arte, Buñuel já se consagrara com esse filme mudo, pois O Cão Andaluz é muitas vezes dito como mais importante do cinema experimental surrealista, e isso é claro no filme, pois Buñuel abusa de uma visão extensa sobre o ideal que está acima do ser humano.

O filme possui uma história de ordem totalmente contrária a que se costumava ver, ele age como uma fábula e logo volta à um drama mais sério. Inspirado em conceitos da psicanálise de Freud, Buñuel utilizava-se do inconsciente dos personagens, muitas vezes até fantasiosos.

O Cão Andaluz é um conjunto de imagens oníricas, engajadas num vídeo como se fossem um pesadelo, repleto de metáforas. A primeira cena mostra uma mulher que tem seu olho cortado com uma navalha por um homem. Esse é o próprio Buñuel. Logo depois, aparecem formigas saindo da mão dele, uma possível alusão literária à expressão francesa fourmis dans les paumes (formigas nas mãos) que significa "um grande desejo de matar".

"A Idade do Ouro", de 1930

Logo depois de O Cão Andaluz, em 1930, Buñuel faria o que é considerado um de seus filmes mais polêmicos, A Idade do Ouro (L'âge d'or, França), que conta a história de um amor jamais concretizado. Com uma realidade demasiada ousada para a sociedade leiga, o filme acabou sendo recebido por muitos como sem caráter. Uma cena das muitas que foram criticadas, é a última, em que o Duque de Blangis é mostrado saindo de uma orgia em seu castelo.

Vale ressaltar, claro, que a influencia do surrealismo nos filmes de Buñuel não é derivada apenas de ideologias próprias suas, mas sim, do pintor Salvador Dalí, que co-dirigiu seus dois primeiros filmes, citados anteriormente.

"O Discreto Charme da Burguesia", de 1972

Mais tarde, Buñuel faria o filme que, ao meu ver, são dois de seus melhores, O Discreto Charme da Burguesia (Le Charme Discret de la Bourgeoisie, França, 1972) e A Bela da Tarde (Belle de jour, França, 1967). O primeiro é de um implícito realismo, típico da frança do século XIX, onde se analisa o convivio entre as pessoas da classe média e alta da sociedade francesa. O segundo, feito antes, é outro filme sobre burguesia, que nesse caso, retrata uma mulher, em especial, que trabalha em um bordel, Sevérine, interpretada pela linda Catherine Deneuve, que hoje tem 68 anos. 

"O Fantasma da Liberdade", de 1974

Viridiana (França) e O Fantasma da Liberdade (Le Fantôme de la Liberté, França) também são ótimos filmes de Buñuel, feitos por volta do fim de sua carreira, em 1961 e 1974, respectivamente. O Fantasma da Liberdade segue uma cronologia parecida com a de A Idade do Ouro, sendo dividido em 14 capítulos e tendo amantes como personagens que conduzem a trama. Mas no caso de O Fantasma da Liberdade, Buñuel divide cada capítulo para um persongem diferente, que seguem essa cronologia.

"Viridiana", de 1961

Viridiana segue a velha cronologia, mas não cansativa, de Buñuel e seu platonismo às claras, com a atriz Silvia Pinal interpretando Viridiana que vai visitar o tio de sua madre superior Don Jaime, que por vez, tenta seduzir a jovem moça. O filme foi acusado de blasfemia e indecência pelo Papa João Paulo XXIII, e banido na Espanha pelo ditador Francisco Franco. Em 1977, dois anos após a morte de Franco, o filme fora liberado para ser exibido no país.

Luis Buñuel é mais um diretor que está no coração dos cinéfilos desde seu nascimento, como é o caso de François Truffaut, em que dia desses foi comteplado com homenagens de seus 80 anos desde o nascimento. O estilo de cinema de Buñuel ficou pra história, o modo rápido, sutil e objetivo com que ele filmava as cenas era impressionante, o que nenhum diretor conseguiu fazer de forma tão clara quanto ele. Ao meu ver, o maior diretor espanhol de todos os tempos, apesar de ter trabalhado demasiado na França.

5 comentários:

  1. Bela homenagem a Buñuel. Um cineasta corajoso e provocativo, na veia do Cinema, expos seus sonhos e delírios por mais profanos que eram.
    abs.

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    1. Madame,

      Quanta gentileza lhe receber por aqui. Buñuel é Buñuel, ele era único e até está em nossos corações cinéfilos. Agradeço a você, Madame, por passar por aqui.

      Grande Abraço, Otávio!

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  2. Obrigado, Lê. Já conferi seu blog, muito bom mesmo. Continuarei passando por lá.

    Abraço, Otávio!

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  3. Ola Otávio,
    Belíssima postagem sobre a genialidade de Buñuel.
    Eu que curto filmes mas não chego a ser um cinéfilo gostei bastante de conhecer mais sobre este grande diretor.

    Abraços, Flávio.
    --> Blog Telinha Critica <--

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    1. Flávio,

      Obrigado! Bom, eu também não sou aquele viciado em Buñuel que viu todos os seus, mas já vi alguns e sei que já deveria tê-los visto há tempos. Por isso, recomendo.

      Abraço, Otávio!

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